Se é que é verdade que, no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval, no quesito turismo, há de fato muito o que fazer assim que terminar o reinado de Momo, começando por definir a situação das operadoras e agências, que já vinham de um 2015 sofrido.
E, como se não bastasse a desvalorização do real em 50% frente ao dólar no ano passado e a economia que continuou em franca recessão, o setor de viagens viu 2016 raiar pressionado pelo susto de uma nova alíquota de imposto de renda, de “apenas” 25%, sobre remessas para pagar serviços no exterior.
Desde então, é verdade, o ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB), em ritmo de Vai-Vai, vem prometendo diminuir a tal alíquota para 6,38%. Mas será que vai mesmo?
Outra autênitca “zica” deste ano para a indústria do turismo brasileira é o vírus mortal da zika, que um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao Ministério da Saúde, diz ter potencial de infectar mesmo na saliva e na urina.
Depois de mobilizar o até presidente norte-americano Barack Obama, o assunto do vírus da zika por aqui virou também um tema da campanha presidencial nos EUA, quando, no último sábado (6), o governador Chris Christie, de Nova Jersey, afirmou que “imporia uma quarentena às pessoas que voltarem de viagens ao Brasil”.
E como sempre dá para piorar, os jornais agora estampam que a proliferação do vírus zika fez o Comitê Olímpico dos EUA informar aos atletas, às equipes e às federações esportivas daquele país que eles podem optar por não vir ao Jogos Olímpicos/Rio-16, em agosto.
Difícil pensar num cenário pior para o turismo brasileiro, seja ele “exportativo” ou “receptivo”, para usar o jargão do setor. Justamente um setor que, quando bem orquestrado por governos, tem potencial de transformar a economias atraindo divisas, gerando múltiplos empregos diretos e indiretos.
O Carnaval está passando, as Olimpíadas/Rio-2016 logo aparecerão pela proa e uma série de escândalos, envolvendo políticos governistas, que ainda está no ar, logo voltarão a ganhar as manchetes.
No bojo da Lava-Jato e de suas operações que invariavelmente recebem nomes que seriam cômico-carnavalescos, não fossem trágicas as investigações e as prisões de empresários e de autoridades envolvidos em escândalos, muita água ainda vai rolar.
A economia, sempre implacável, pede medidas urgentes, como cortes de gastos por parte do governo federal–, gastos que a Presidência, aliás, não parece convencida ou não está apta a implementar.
E assim, até que esta quarta-feria de cinzas tiver passado, no velho ritmo de “me dá um dinheiro aí”, o governo federal vai tentar ressucitar a impopularíssima CPMF. Mas a pergunta é, com a sociedade descrente e empobrecida pela alta da inflação e pelo desemprego: será que desta vez a “nova” CPMF vai passar?
Pobre de nós, que vivemos dias de pura fantasia e, agora, vamos ter que enfrentar a realidade de um Brasil quebrado.
Fica a esperança de que o Ministério do Turismo atue com celeridade e concerte a indústria nacional de turismo para que os Jogos da Rio-2016 transcorram não só atraindo viajantes estrangeiros, como oferecendo a eles um produto de primeira linha. Sem isso, terminado o Carnaval, vamos descobrir que Brasil, afinal, não tem mesmo conserto.