Folha – Como o sr. está vendo essa normativa que, desde o dia 1 de janeiro, determina uma alíquota 25% para operadores de turismo que fazem remessas ao exterior e com elas pagam serviços? Ou seriam 6%? Ou 6,38?
Leonel Rossi Jr. – “Não é só 25%, pois com as taxas de banco, isso chega a 33% e assusta enormemente o setor. Se a medida prevalecer, vamos ter muitas demissões e muitas agências e operadoras vão fechar, isso sem dúvida alguma.
Mas tem o reverso da medalha, eu acredito que isso vá ser modificado.
Um acordo havia sido feito com o ex-ministro Joaquim Levy, da Fazenda, para essa alíquota ficar equiparada ao IOF do cartão, que é de 6,38%.
O próprio Levy aceitou, mas como a mudança dele, por um momento voltou atrás. Entretanto, o ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB), parece realmente empenhado em reverter a normativa.
Veja só: turismo é uma via de duas mãos, não funciona assim, e o Brasil já chegou num patamar em que políticas assim não funciona. Temos, no país, uma reserva de US$ 320 bilhões.
Então essa medida é uma bobagem muito grande.
Nós já passamos das épocas críticas em você punha imposto para viajar, mas o mundo mudou!
E qual o sr. estima que vá ser impacto de uma alíquota alta no bolso do passageiro?
Na realidade, o brasileiro está gastando menos no exterior, 30% menos em Miami, por exemplo.
Mas isso nada tem a ver com a alíquota: isso já vinha assim desde que, durante o ano passado.
Entretanto, as companhias aéreas cortaram os preços pela metade, seja para os EUA, seja para a Europa, o que ajuda a equilibrar um pouco as coisas?
2015 foi particularmente ruim para os operadores, com a majoração de 50% do dólar no período. Essa alíquota, nem que seja de 6% ou de 6,38%, não onera demasiadamente o setor de viagens?
O setor de turismo já é bastante onerado e tudo isso é muito preocupante.
Mas, como disse, acredito sinceramente que vai ter uma solução por parte do governo federal.
Não é possível que, com o acordo que já estava selado, não se volte atrás. A cobrança de 6,38%, que deixa as operadoras em igualdade com o cartão de crédito, já é uma cobrança boa.
No ano passado, antes portanto desse anúncio da alíquota do imposto de renda, a venda de passagens aéreas internacionais ficou igual a 2014.
Já no nacional, os voos aumentaram cerca de 5%.
Na venda de pacotes, o internacional caiu cerca de 25%, enquanto no Brasil, subiu uns 8%.
Com as Olimpíadas, o Rio-2016, o que será do setor no turismo receptivo e como o exportativo vai reagir?
Se essa alíquota ficar, poderá haver uma queda de uns 40% no exportativo, que são as viagens de brasileiros para o exterior, mesmo com compensação, como falei, das companhias aéreas internacionais cobrando menos pelos bilhetes.
Mas é bom lembrar que as pessoas acostumaram a viajar e que devem continuar viajando, embora tendam a gastar menos em suas viagens.
O que deveria ser feito para o Brasil conseguir atrair um bom número de turistas estrangeiros?
Veja, o dólar subiu, o Brasil ficou mais barato, mas mesmo assim não acredito que os Jogos Olímpicos deste ano no Rio atraiam muita gente.
Não fizemos promoção adequada, como também não fizemos na Copa do Mundo.
Dentro da conjuntura das despesas de eventos desse vulto, seria preciso separar dinheiro para investir na imagem no Brasil no exterior.
Seria uma janela, um momento para fazer marketing do turismo brasileiro, mas não fazemos… é medíocre.
Nas Olimpíadas, com dezenas de modalidades esportivas, poderíamos trazer muita visitação do exterior, mas temos problemas de segurança e outros.
Com alguma sorte vamos receber 6,5 milhões ou sete milhões de turistas estrangeiros, o que não é nada.
Pega outros países, mesmo ilhas do Caribe recebem mais visitantes do exterior do que o Brasil, porque gastam três vezes mais em promoção turísticas do que nós gastamos.
Seria preciso anunciar em revistas como a Condé Nast Treveller, como a Embratur já fez no passado.
Outra promoção que foi boa, na época do ministro Caio Luiz de Carvalho, foi incluir promoção sobre o país na programação da emissora norte-americana CNN.
Também tem a experiência do Brand USA, uma pareceria público-privada em que governo e operadoras põem 50% de recursos cada um.
A verdade é que nosso exportativo está ruim e o receptivo está muito caído.
Se não houver promoção, não teremos turistas. Teremos que mostrar coisas boas, senão fica só a parte negativa, a zica, etc. E é preciso lembrar que os brasileiros estão cansados de tantos impostos.