O primeiro dia deste ano amanheceu sombrio para os operadores de turismo –e trouxe uma triste e inesperada notícia: uma normativa, depois ratificada no Diário Oficial da União, “brindava” os brasileiros com uma alíquota de 25% no imposto de renda (IRFF) sobre remessas para pagar serviços de viagens contratados no exterior.
Desde então, o atual ministro Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB), vem “garantindo” às entidades representativas do setor e aos operadores –entre eles, a Braztoa, a Abav-Nacional e a Clia-Abremar, além de dirigentes da CVC– que haveria uma reformulação e que a nova alíquota seria de “só” 6% (ou seriam 6,38%?).
Chegamos a fevereiro, o imbróglio continua, e a despeito da romaria que os operadores têm feito a Brasília, das fotos que têm tirado ao lado do ministro Henrique Alves, a alíquota de 25% continua em vigor, consoante que está com a sanha arrecadatória do governo federal e com a estratégia de dificultar a saída de divisas.
Após sucessivas promessas não cumpridas, a modificação, que deveria ter sido publicada na última sexta (29), ficou para 1 de fevereiro. Mas será mesmo que a palavra do ministro do Turismo vai ser cumprida?
Político experimentado, deputado federal por 11 legislaturas, não foi por acaso que Henrique Alves virou ministro do Turismo.
Se você pensou que ele entendia do assunto, que empreendeu ou se interessou pela indústria de viagens, a resposta é não: ele não tinha –e aparentemente continua a não ter—nenhuma afinidade com a pasta.
A favor dele, pesou o fato de ser um quadro diretivo do velho PMDB.
Logo que assumiu, é verdade, Henrique Alves mostrou força política ao conseguir a aprovação no Congresso para a dispensa de visto, por três meses, de estrangeiros que virão ao Brasil na época dos Jogos Olímpicos Rio-2016.
Foi uma bola dentro, tentar atrair mais visitantes do estrangeiro para o país é positivo e necessário, mas, neste momento, com a delonga em resolver a questão do novo imposto que na prática encarece bastante as viagens de brasileiros ao exterior, a lua-de-mel do ministro do Turismo com o setor de turismo está azedando.
2015 já foi um ano particularmente duro para os operadores, o dólar subiu 50% no ano, operadores tradicionais, entre eles a tradicional Nascimento Turismo, fecharam as portas.
Se nada ficar resolvido, ficará claro que o governo federal não dá a mínima para o setor de turismo, que o pano de fundo é tornar as viagens para o exterior proibitivas e arrecadar, arrecadar, arrecadar…
NÚMEROS PÍFIOS
Na contramão dos países que levam a indústria do turismo a sério, nesses últimos anos, o Brasil permaneceu, em relação ao receptivo, empacado na marca de 5,5 milhões de turistas estrangeiros/ano.
Em 2014, é verdade, o número melhorou um pouco: no ano da Copa do Mundo, cerca 6,7 milhões de viajantes internacionais para cá vieram.
Mas, também em 2014, a título de comparação, os números totalizados por órgãos oficiais dos maiores países receptivos e por organizações como Organização Mundial do Turismo (OMT), registram que França recebeu mais de 85 milhões de viajantes estrangeiros; os EUA, 75 milhões; a Espanha, 65 milhões; a China, 56 milhões, e a Itália, algo em torno de 48 milhões de turistas estrangeiros.
Há inclusive metrópoles e cidades-Estado que ganham de longe do Brasil no quesito atrair visitantes estrangeiros, caso de Hong Kong, hoje reincorporada à China, que recebeu quase 28 milhões de turistas em 2014.
De acordo a Euromonitor International e seu estudo Top 100 City Destinations, Hong Kong recebeu precisamente 27,7 milhões de estrangeiros no período, com mais de dez milhões de pessoas a mais em comparação com o segundo colocado, que foi Londres.
A Europa, por sua vez, permanece como um sonho de consumo mundial e sobretudo aos que se iniciam no mundo das viagens.
Já o Brasil, basta a ver pela lista abaixo, vai continuar na periferia da periferia da periferia:
Confira os números de visitantes estrangeiro sem 2014, de acordo com a pesquisa Top 100 City Destinations:
1- Hong Kong (China) – 27,7 milhões de turistas 2- Londres (Reino Unido) – 17,3 milhões 3- Cingapura – 17 milhões 4- Bangcoc (Tailândia) – 16,2 milhões 5- Paris – 14,9 milhões 6- Macau – 14,9 milhões 7- Shenzhen (China) – 13,6 milhões 8- Nova York – 12,2 milhões 9- Istambul (Turquia) – 11,8 milhões 10- Kuala Lumpur (Malásia) – 11,6 milhões