Rio-16 é remédio para a crise?

Por Folha

“Os Jogos Olímpicos no Rio, em 2016, serão, antes de tudo uma “janela” para mostrar o turismo brasileiro”, diz Magda Nassar, presidente da Braztoa (Associação Brasileira de Operatores de Turismo Braztoa).

 Mas a empresária lembra também que, em Londres, durante as Olimpíadas de 2012, “houve uma queda de 12% no movimento de visitantes estrangeiros.”

 Magda, tem mandato até maio de 2017 à frente dessa entidade que congrega 68 operadoras de turismo que, juntas, faturaram R$ 11,87 bilhões e embarcaram 6,01 milhões de passageiros no ano passado.

 Crítica de preços exorbitantes “como os que estão sendo cobrados para esse Réveillon”, ela afirma que o Brasil precisa praticar, também no exterior, “preços compatíveis com os dos destinos com os quais concorre no mercado internacional.” E afirma que é ainda estratégico conhecer melhor o viajante estrangeiro que para cá se destina.

 “Pelo menos passamos da fase das araras”, diz ela, lembrando que, nos principais eventos do setor de turismo realizados no exterior, os estantes da Embratur/Ministério do Turismo divulgavam imagens esteriotipada do Brasil.

 Apesar de chamar o governo de “desgoverno”, a empresária elogia a atual gestão do ministro do Turismo Henrique Alves (PMDB), que conseguiu uma inédita aprovação no Congresso Nacional isentando os cidadãos norte-americanos da necessidade de visto de entrada, por um período de três meses, compreendidas aí as Olimpíadas do ano que vem.

 Leia a seguir entrevista exclusiva com a presidente da Braztoa. 

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Magda Nassar, presidente da Braztoa (Associação Brasileira de Operadores de Turismo) / Crédito: Adriano Vizoni/Folhapress

 

Como pode o turismo ajudar o Brasil a sair da crise?

Magda Nassar – Atrair 6,7 milhões de turistas de turistas estrangeiros para um país como o Brasil, como fizemos no ano passado, não é nada… E em 2014, num ano de Copa do Mundo, conseguimos aumentar em apenas 4,4% o número de turistas de outros países. [A Espanha, que é o o segundo ou o terceiro nesse ranking de visitação, fechou 2014 com 65 milhões de visitantes, dez vezes mais que o Brasil, num aumento de 4,4% em relação a 2013]. E o que fazer para reverter isso? Defendo que os grandes eventos, como Copa e Olimpíadas, são “janelas.”

É preciso usar esses eventos como “janelas para o mundo”, usando a exposição que o Brasil vai ter.

O turismo pode ser muito mais importante para o país se a gente focar no segmento do turismo receptivo e, concomitantemente, fortalecer o turismo interno: aí vamos ter uma movimentação imediata de recursos.

E o Brasil, nessa crise que a gente está, precisa de dinheiro circulando. Essas novas taxas e impostos que estão querendo criar mostram justamente que o o governo –ou seria um desgoverno?– precisa arrumar a economia e precisa faturar. Turismo gera rendas imediatas, porque você está vendendo serviços e esses serviços trazem divisas imediatamente.

 Lembrando que na Copa do Mundo o país não aumentou substancialmente o número de visitantes, nos Jogos Olímpicos, em 2016, no Rio, a situação pode se reverter?

 Magda Nassar – O Reino Unido teve queda de 12% no número de turistas nos meses em que hospedou as Olimpíadas, em 2012. Londres se organizou perfeitamente para os Jogos, que duram um mês, entre julho e agosto. Mas é preciso lembrar que esse é o período de altíssima temporada de turismo na Europa, porque é verão, mas eles tiveram essa queda de 12%.

 Mas vamos examinar qual é a mágica? No ano seguinte, em 2013, eles transformaram essa queda com relação a 2011 num aumento de 30%!

 É preciso diferenciar o amante de esporte do passageiro normal, que não quer viajar nesse momento, quando a cidade está mais atribulada, com trânsito, com preços mais caros… E vamos lembrar que infraestrutura turística de Londres é extremamente forte.

 Qual ensinamento podemos tirar disso?

 Magda Nassar – Vamos primeiro voltar ao caso da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. Lembra que houve toda uma celeuma da população “não vai ter Copa”? A gente não tinha a infraestrutura necessária, que foi criada de última hora, os estádios não ficaram prontos com a antecedência que você viu em outros países, o que desestimula muito, acaba indo para o que eu chamo de vitrina negativa.

 Isso foi, no entanto, foi revertido de certa forma durante a Copa –e é preciso ressaltar que o Rio de Janeiro, no entanto, está bastante preparado para os Jogos Olímpicos do ano que vem.

 Eles aumentaram a oferta de quartos de hotel numa proporção importantes, está já com bons números de pré-reservas, mas é preciso lembrar que as Olimpíadas duram só um mês.

 Então a estratégia deles me parece adequada nesse momento: de acordo com a Secretaria de Turismo do Rio e do Convention Bureau (CV&B), com os quais a Braztoa está trabalhando, o plano é trabalhar o antes, o durante e o depois dos Jogos de 2016.

 O Rio tem que aproveitar tudo isso, coisa que o Brasil não fez durante a Copa.

É essa janela que se abre, essa vitrina positiva, que pode dar ao Rio a oportunidade aproveitar os bons resultados de um evento olímpico bem realizado.

 Mas vejamos inclusive o caso da Copa passada, para não cometer injustiças. O que aconteceu de problemas durante? Nada, nada que já não tivesse acontecido em outros países que também hospedaram a Copa, apenas problemas pequenos, pontuais.

 Então é isso, esse grandes eventos servem para ganhar espaço oferecendo boa infraestrutura, preços justos, segurança etc., até porque a cadeia mesmo de turismo não participa desse durante, pois apenas um operador de turismo vende ingressos para os Jogos Olímpicos, como também apenas uma empresa da Fifa vendia ingressos para a Copa…

 E o governo federal, ajuda ou atrapalha o setor?

 Magda Nassar – Nesse momento, temos um ministro do Turismo, o Henrique Eduardo Alves (PMDB), que inegavelmente tem influência política. Ele queria entender o turismo desde que assumiu, ouviu muito as pessoas do turismo e conseguiu uma coisa inédita: o fim da obrigatoriedade visto turístico por um total de três meses que incluem o período das Olimpíadas no Rio em 2016.

 Isso já está aprovado e o ministro quer ampliar essa isenção de visto por oito meses, independentemente da reciprocidade, ou seja dos EUA e do Canadá manterem a exigência de vistos para brasileiros.

 O próprio Henrique Alves admitiu para mim, quando iniciou o mandato, “eu não entendo de turismo, mas não me conformo que ninguém ainda tenha feito esforço para incentivar o setor, já que o universo que você trabalham é enorme e é profícuo. E essa medida de abolir os vistos, ainda que por apenas três meses, é acertada.

 Qual é e qual pode ser o impacto de desenvolver o turismo no país? 

 Magda Nassar – Dos R$ 12 bilhões movimentados pelos operadores da Braztoa no ano passado, metade era de pacotes para o mercado nacional e a outra metade de viagens internacionais. Mas vejamos o quanto é importante o turismo: esses R$ 6 bilhões que foram vendidos em pacotes turísticos geraram, de acordo com uma pesquisa de impacto econômico que fizemos, renderam outros R$ 4 bilhões para o Brasil.

 Isso mostra o quanto o turismo é importante para o país, o quanto pode trazer de divisas. Precisamos trazer estrangeiros e precisamos também proteger o mercado interno, que ainda tem problemas.

 Que tipo de problemas e que soluções a sra. propõe?

 Magda Nassar – Com o país em crise e o dólar valendo perto de R$ 4, é preciso olhar com cuidado os nossos gargalos.

 Hoje, uma passagem aérea para o Réveillon SP/Recife/SP chega a custar R$ 3.000. Não dá para custar isso porque um bilhete SP/Miami/SP para este mesmo fim de ano custa US$ 600 ou US$ 700!

 Para trazer gente de fora, temos que ter preços competitivos, não dá para aumentar assim, pois precisamos trazer estrangeiros para fortalecer nosso mercado interno.

 Com que a gente compete hoje? Além de Foz do Iguaçu, que é um produto único, em termos de segmentos turísticos temos praias, gastronomia e cultura. Não podemos ser mais caros que os países que oferecem produtos semelhantes.

 É preciso lembrar que o nosso público que vem de distâncias mais longas, sobretudo por europeus –e entre eles, muitos alemães e britânicos– eles são do segmento “budget travel”, grupo que não costuma gastar grandes fortunas em viagens.

 Então é preciso pensar no que eles querem para ter um bom receptivo. Nosso clientes vão ficar em bons hotéis? Nós temos que nos adaptar aos preços do mundo. O Caribe hoje, com o dólar em alta, tem preços parecidos com o Brasil. Então como fazer o turista estrangeiro escolhar visitar o Brasil e não a região do Caribe?

 Há um novo modelo público-privado paradigmático, que é o do Brand USA. Criado por Obama, ele quer transformar os EUA no principal destino de turistas em todo o mundo até 2010, destronando a França. Algo assim seria adequado no Brasil?

 Magda Nassar – Acho que a união dos destinos no Brasil seria importante, assim como seria importante contar com o apoio, além do Ministério do Turismo, da Embratur, que hoje é presidida por Vinicius Lummertz.

 O turismo pode ser estratégico para o Brasil e o presidente da Embratur é um entusiasta do Brand USA.

 Eu, por outro lado, não são tão entusiasmada pelo Brand USA, mas vamos ver se o relacionamento deles com o nosso mercado melhora para 2016.

 De todo modo, lembro que sistema do Brand USA não é inédito; no Canadá, a CTC, que funciona há anos, também é público-privado.

  O Brand USA tem site muito bom, tem o e-learning, tem a iniciativa privada apoiando num “board”, mas ainda precisa de ajustes nos mercados em que atua.

 No Brasil, temos um planejamento, que ainda precisa ser aprofundado, mas que deve unir a Embratur e a Braztoa.

 A Embratur faria a campanha institucional do país, que é a função deles, e a Braztoa agregaria o lado comercial à essa campanha.

 O turista estrangeiro não sabe ao certo os custos de vir ao Brasil, não adianta chegar lá mostrando araras. Porque antes a gente ia nas feiras internacionais e no estande do país tínhamos as araras, que são bonitas, assim como como são as baianas que davam fitinhas do Senhor do Bonfim, mas o país não é só isso.

Para desenvolver o turismo no Brasil, para transformar o turismo numa alavanca que vai ajudar a superar a crise, é preciso trabalhar em conjunto as regiões do país.

Recentemente, a Braztoa fez um acordo com nove Estados do Nordeste, através da associação CTI, oferecendo exclusivamente pacotes para lá no evento Turismo Week/Braztoa, que aconteceu em agosto em São Paulo.

Pois bem: foi a maior venda de pacotes para o Nordeste realizada em baixa temporada em todos os tempos.

Então temos que fazer isso lá fora, agregando ao site da Embratur, que foi concebido nos moldes do Brand USA, o nosso site da Braztoa de vendas de produtos dos diversos operadores.

Já estamos traduzindo nosso site para o inglês e espanhol –e não estamos só focando em Rio, em São Paulo e em capitais do Nordeste.

Vamos ter, com preço e descritivo de dois mil pacotes diferentes, informações de destinos como Jalapão, Fernando de Noronha, com o Brasil todo.

 

RAIO-X
MAGDA NASSAR

PERFIL
Presidente da Braztoa, com mandato até maio de 2017
Foi diretora de eventos (2001/2003), vice-presidente (20011/2015) e é
a primeira mulher a presidir essa entidade desde a sua fundação, em 1989

TRAJETÓRIA
Relações públicas e agente de viagens desde 1983, é diretora comercial da
operadora Soft Travel Viagens, que fundou em 1989

FICHA TÉCNICA
BRAZTOA – www.braztoa.com.br
(Associação Brasileira dos Operadores de Turismo)
Entidade privada e sem fins lucrativos, realiza ações institucionais, de fomento ao desenvolvimento sustentável do setor de turismo e de promoção e apoio à comercialização de seus associados

Tem 87 associados: 68 operadoras, sete colaboradores, cinco representantes e seis convidados

Representatividade da Braztoa, em números (dados de 2014):
·   Seus associados vendem 90% do mercado de turismo de lazer
·   Faturaram R$ 11,87 bilhões de faturamento no ano passado, gerando estimados R$ 9,8 de impacto econômico na cadeia produtiva do turismo
·   Embarcaram 6,01 milhões de passageiros
·   A Braztoa atua em 26 Estados e no Distrito Federal, mas conta com o alcance, a cobertura e a presença  de seus associados em todo o Brasil