Supersônicos? Viagens espaciais? Hotel submersos? Sim, em 2030

Por Silvio Cioffi

 

Na semana que passou, surgiu a notícia dos novos jatos supersônicos que devem, num futuro próximo, voltar a ser usados em voos comerciais.

Aposentados por tempo de serviço em outubro de 2003, os supersônicos Concorde, produzidos por um consórcio franco-britânico e ativos desde 1969, marcaram época voando com as cores da British Airways e da Air France.

Esses supersônicos para passageiros foram inicialmente projetados entre 1956 e 1959 e, quando a operação comercial das companhias aéreas britânica e francesa os aposentou, em 2003,  suas frotas tinham, respectivamente, sete e cinco aeronaves.

Ao fim da operação, o então presidente da Air France, Jean-Cyril Spinetta, se referiu ao Concorde como “o mais belo objeto industrial jamais fabricado.”

A aposentadoria do Concorde, no entanto, se deveu a uma tragédia.  Um dos supersônicos da Air France decolou do aeroporto de Charles De Gaulle, em 25 de junho de 2003, e, com um motor em chamas, caiu em Gonesse, a 21 km de Paris, matando 113 pessoas.

Os voos  foram suspensos e logo depois retomados, mas, dada a velhice da frota, esses supersônicos, que voavam duas vezes mais rápido que a velocidade do som, a 2.200 km/h (quase Mach 2), viraram peças de museu.

O fato é que, com o fim da operação comercial de jatos como o Concorde, restou um vazio.

Velocidade custa caro, as tarifas eram muito elevadas, mas voos supersônicos faziam e fazem sentido em rotas em que o capitalismo tem pressa, como no caso de Paris-Nova York ou de Londres-Nova York.

Com todos os assentos de primeira classe, o Concorde era capaz de  fazer a rota entre Paris e Nova York em três horas e 45 minutos.

E, além dos voos de carreira, as empresas também faziam voos charter, ou fretados.

Entre 1975 e 1982, os mais velhos devem se lembrar, a Air France também operou o supersônico franco-britânico entre Paris e o Rio, fazendo escala em Dakar, no Senegal.

 

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Foto Silvio Cioffi/Folhapress – Em imagem feita de cima de uma das asas, um Concorde da Air France faz escala no aeroporto do Galeão, no Rio, nos anos 1990

SINAIS DOS TEMPOS TEMPOS

 

Qualquer dos atuais grandes jatos de carreira, não importa se fabricados pela norte-americana Boeing ou pela europeia Airbus, faz hoje percursos transcontinentais desenvolvendo, em altitude de cruzeiro, velocidades de até 900km/h, mas certamente que haveria público para novas aeronaves supersônicas bem mais rápidas se o Concorde viesse a ter um sucessor.

A tecnologia usadas nesses supersônicos, e abandonada por alguns anos pela aviação comercial, só fez avançar nesse meio tempo.

Na indústria de viagens, além da questão da velocidade dos aviões de carreira, há, entre outras, duas novas fronteiras estão sendo colocadas: quando é que teremos turismo espacial e, também, quando vamos nos hospedar em hotéis no fundo do mar?

Há quem arrisque uma data para o mundo das viagens conquistar essas novas fronteiras: 2030.

Basta lembrar que quando o escritor francês Júlio Verne lançou seu romance “A Volta ao Mundo em 80 dias”, em 1872, a tecnologia para uma viagem de circum-navegação já estava disponível, mas era preciso dispor de muito dinheiro para empreender tal roteiro.

Então, quando o ficcional cavalheiro inglês Phileas Fogg, inventado por Verne para protagonizar o romance, apostou 20 mil libras esterlinas num clube de cavalheiros afirmando que seria capaz de fazer um giro completo pelo planeta em 80 dias, ele estava na verdade ancorado na mais moderna tecnologia e nos meios de transporte então já disponíveis.

O romance de Júlio Verne viraria, décadas depois, um longa-metragem estrelado por David Niven e por Cantinflas, filme que mostra como Phileas Fog e seu criado francês iniciaram a então viagem das viagens, não importando a que preço.

Hoje, a operação Concorde é testemunha, já quase que dispomos de meios para transportar passageiros em viagens supersônicas, para levar turistas ao espaço (ou pelo menos à órbita da Terra) e até para o fundo do mar, mas ainda será preciso esperar alguns anos para que essas novas formas de turismo possam ser viabilizadas comercialmente.

No caso das viagens orbitais, o empresário britânico “sir” Richard  Branson, da empresa aérea Virgin, atrasou o cronograma de testes de aeronaves depois que, no ano passado, um acidente derrubou a sua experimental SpaceShipTwo,  que tinha capacidade para dois pilotos e seis passageiros.

A SpaceShipTwo usava foguetes como propulsores, ao se desprender do avião carregador, num voo de testes, à uma altura de até 17 km, protagonizou um acidente fatal.

A nave da Virgin, que usa seus próprios motores para subir até a estratosfera, à uma altura de 100 km,  já havia feito 55 voos de teste desde 2008, quando se acidentou no ano passado.

A título de comparação, os atuais jatos comerciais convencionais voam à uma altitude de cruzeiro de cerca de 10 km.

Além da Virgin Galactic, outras empresas estão disputando a primazia do pioneirismo no turismo orbital –e o empresário norte-americano Jeff Bezos, dono da Amazon e do diário “The Washington Post”, também investe para viabilizar o turismo espacial num futuro próximo que os especialistas também arriscam que será totalmente viável até 2030.

 

PROFUNDEZAS

 

No caso dos hotéis e até restaurantes submarinos, o problema está em criar, a um preço razoável, estruturas resistentes a uma pressão que pode ser de até toneladas por cm2.

Essas estruturas já existem, mas quando será que, plantadas nas profundezas do oceano, eles vão se transformar numa nova e real alternativa popular de hotelaria e de lazer?

Essas respostas são difíceis de dar, mas é preciso lembrar que não faz muito tempo que a internet revolucionou o mundo das viagens, popularizou conhecimento e inovou o mercado de turismo tal como ele era conhecido.

Tecnologias são, num primeiro momento, “bichos estranhos”. Mas uma coisa é certa: uma vez implementadas, não há volta atrás.