Premida pela necessidade de aprovação de seu pacote fiscal e pelo medo de um processo de impeachment, a presidente Dilma Rousseff engendra uma reforma ministerial que amplia o espaço do PMDB no seio do governo federal.
A reforma deve reduzir o número de ministérios brasileiros dos atuais 39 para possíveis 29 pastas –e aparecem, aqui e ali, conjecturas de que o Ministério do Turismo (MTur) poderá, no bojo dessa reforma, ser fundido com o Ministérios dos Esportes.
Não é uma combinação nova fundir Esportes com Turismo. E também não é novidade que, nos governos petistas, o MTur foi tradicionalmente usado como moeda de troca e se tornou uma espécie de capitania hereditária do PMDB.
Atualmente sob o comando de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que foi deputado por 11º mandatos consecutivos, a pasta do Turismo também se notabiliza por ter sido sucessivamente gerida por políticos que, como ele, nunca foram ligados à indústria do turismo.
Como consequência desse aparelhamento político-partidário, o Brasil está estagnado numa marca medíocre de visitação e raramente conseguiu, nos anos passados, atrair mais de 5,5 milhões de turistas estrangeiros/ano.
No passado, a despeito da Copa do Mundo, o país recebeu estimados 6,7 milhões de visitantes internacionais, o que não deixa de ser um número igualmente pequeno.
Vale lembrar que, embora tenha sido não levado a sério pelos últimos governos, o turismo receptivo é um vetor de desenvolvimento estratégico para a economia dos países. É também um dos setores que potencialmente mais gera empregos e divisas.
Para isso acontecer, no entanto, além de profissionalismo e capacitação, é preciso que a indústria do turismo seja trabalhada em conjunto por agentes públicos qualificados e pela iniciativa privada.
Agora, diante do atoleiro político e econômico, quando surgem notícias de que, no total, sete dos ministérios que sobrarem devem ficar sob a influência do PMDB, também se comenta que a presidente Dilma Rousseff já conversou pessoalmente com o atual ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves.
O “x” da questão é se o atual titular do MTur, que recebeu a pasta como prêmio de consolação após ter perdido uma eleição para o governo do Rio Grande do Norte, fica ou não fica. Outra pergunta é se os ministérios de Turismo e Esportes vão realmente ser um só ao final da reforma ministerial em curso.
PROFISSIONALISMO PERDIDO
Nos EUA, país que está fazendo uma revolução de escala mundial na sua indústria do turismo, não há um ministério do Turismo: o setor é subordinado ao Departamento de Comércio.
Lá, uma organização público-privada chamada Brand USA promete atrair 100 milhões de turistas estrangeiros para os EUA anualmente até 2020 –e está trabalhando para isso.
Fundada em 2010, a Brand USA pretende colocar os EUA em primeiro no ranking mundial de visitação e desbancar gigantes europeus, caso da França, a Espanha e a Itália.
Um dos segredos do modelo norte-americano de fomento turístico é que seu financiamento é baseado em 50% de capitais públicos e em 50% de dinheiro que lhe são repassados pela própria da indústria do turismo.
Desperdício, nem pensar. Cabide de emprego? Menos ainda. No turismo dos EUA, a palavra de ordem é reunir os melhores profissionais e trabalhar tendo como base estatísticas confiáveis.
Não se vê ninguém que não seja do ramo formulando políticas de fomento turístico para o Brand USA; lá, muitos dos burocratas são, inclusive, egressos do setor privado e reconhecidos pelos seus trabalhos.
Profissionalismo também é uma característica de países europeus, que mantêm organismos de fomento turístico tradicionais que, além de focar na infraestrutura e na coordenação entre os diferentes serviços, divulgam seus aspectos históricos e culturais mundo afora para atrair mais turistas estrangeiros.
No ano passado, com base em dados de seus órgãos oficiais de fomento turístico e da Organização Mundial do Turismo (OMT), dá para inferir que a França recebeu cerca de 85 milhões de viajantes estrangeiros; os EUA, 65 milhões; e a Espanha, 60 milhões; e a Itália em torno de 48 milhões de pessoas.
No ano que vem, o Rio de Janeiro será a sede dos Jogos Olímpicos. Pensando nisso, até que fundir os ministérios do Turismo e do Esporte poderia fazer algum sentido. Mas nomear para a nova pasta alguém que não milita em nenhuma dessas duas áreas, tendo como base da nomeação apenas a sua coloração político-partidária, não parece ser uma boa ideia.