O Brasil terminou o ano passado, ano de Copa do Mundo, diga-se, alcançando a marca de 6.429.852 milhões de turistas estrangeiros, número que é 10,6% maior do que o do ano anterior (2013).
A estatística é oficial e os dados, divulgados pelo Ministério do Turismo (MTur), mostram um recorde inédito: nunca antes neste país havíamos ultrapassado a marca de 6 milhões de viajantes/ano passeando por aqui.
Em julho de 2014, o primeiro mês da Copa de 2014, o ingresso de turistas triplicou se comparado ao mesmo mês de do ano anterior, ou seja, em 2013 foram 350 mil os estrangeiros que visitaram o Brasil e, no ano passado, número saltou para 1,02 milhões de visitantes internacionais.
A divulgação algo ufanista do recorde de visitação do Brasil sugere três perguntas:
–esse número, 6 milhões de visitantes, é expressivo quando comparamos os dados de outros países?
–é possível antever um resultado recorde também no ano que vem, quando o Rio de Janeiro será sede dos Jogos Olímpicos?
–o que seria preciso fazer para incluir o Brasil no rol dos grandes receptivos turísticos mundiais?
A primeira resposta é não. Países que levam a vinda de turistas estrangeiros a sério recebem cerca de 10 vezes mais viajantes que o Brasil recebeu em 2014, ano de Copa do Mundo.
A França, no topo da lista, recebeu em 2014 algo em torno de 75 milhões de visitantes estrangeiros; os EUA fecharam o ano passado com a vinda de 72 milhões de pessoas; para a Espanha, foram mais de 65 milhões de turistas; e à Itália, foram mais de 60 milhões de viajantes.
Enrique Ruiz De Lera, diretor do Escritório Espanhol de Turismo em Londres que já trabalhou no Brasil, ressalta que a Espanha aumentou a vinda de turistas em + 7% (2014/2013) e que faturou 63 bilhões de euros com o turismo no ano passado (+ 6,5% que em 2013).
A metodologia pode variar aqui e ali, mas todos os países mencionados –especialmente França, EUA e Espanha– são bastante criteriosos em suas estatísticas e descontam o chamado turismo de fronteira, que é quando o visitante estrangeiro não dorme pelo menos uma noite num quarto de hotel. Há também o critério ”international arrivals”, onde conta o turista que chega de avião, de navio etc.
Já no Brasil, acredita-se que o empenho das autoridades federais em não inflar o número de visitantes para apresentá-lo como “recorde” não é tão rigoroso.
Foi a Argentina, nossa vizinha, o principal emissor de turistas para cá, segundo o MTur, 1.743.930 de visitantes, cerca de 10% mais do que em 2013.
Ainda segundo os dados estatísticos oficiais brasileiros, 70,6% dos turistas que para o Brasil vieram no ano passado usaram o avião como meio de transporte e 27,3% do total vieram pelas estradas.
Dos EUA, ainda de acordo com estatísticas recém divulgadas, vieram 656.801 turistas (10,8% mais do que em 2013).
Para se ter uma ideia, a cifra de visitantes brasileiros nos EUA atingiu, no ano passado, os 2.219.513, segundo dados do Departamento de Comércio norte-americano.
Ou seja, para cada turista americano que veio para o Brasil em 2014, enviamos quase 3,38 brasileiros aos EUA.
FATURAR É PRECISO
Outros fatos relevantes:
— por aqui, o déficit da balança de viagens (ou a diferença entre o que gastamos no exterior e faturamos com a vinda de turistas estrangeiros) foi de US$ 17 bilhões em 2014.
— com dólar alto, IOF salgado no cartão e economia já rateando desde o resultado das eleições, no ano passado, os brasileiros gastaram US$ 13 bilhões em suas viagens aos EUA (5% mais que em 2013).
Apesar do “recorde” de visitação durante a Copa de 2014, a conta não fechou no quesito gastos e os especialistas da indústria do turismo voltam seus olhos para as Olimpíadas de 2016.
Luiz De Moura Jr., economista que assessora a US Travel Association, aposta que o número de turistas norte-americanos no Brasil deve aumentar em 2016, já que, para eles “os Jogos Olímpicos têm mais apelo do que a Copa de 2014, serão mais de 200 os países representados no Rio no ano que vem, contra os 32 países que disputaram o mundial de futebol.”
Moura afirma também que o Brasil é hoje um país caro mesmo para os norte-americanos mas lembra que serão dois eventos conjuntos, a Paraolimpíada e as Olimpíadas propriamente ditas, o que estica o tempo médio das estadas.
Enfim, apesar das expectativas otimistas, é difícil antever se a nossa capacidade de atrair mais turistas em 2016 e de faturar divisas hospedando no Rio de Janeiro os Jogos Olímpicos vai virar realidade.
Dependerá de diversos fatores: do câmbio (relação entre dólar/real e do euro/real); da situação favorável da economia mundial; da capacidade de geração de notícias boas sobre o Brasil na mídia internacional etc.
O triste é que, a julgar pela conjuntura brasileira atual, levando em conta os fatores acima mencionados, só a alta do dólar em relação ao real parece estar garantida. Quanto a acreditar num papel mais do governo federal para realmente fomentar com profissionalismo a vinda de turistas internacionais por aqui, isso talvez já seja otimismo demais.