“A meta do Brand USA é atrair 100 milhões de turistas estrangeiros para os EUA anualmente até 2020”, afirma Thomas Garzilli, vice-presidente dessa organização oficial público-privada norte-americana que está em São Paulo para participando do evento de World Travel Market/Braztoa (www.wtmlatinamerica.com) entre 22 a 24 de abril, no Expo Center Norte (SP).
Tom Garzilli, como é conhecido, é um profissional da área de marketing e integra os quadros da organização desde 2013. “O Brand USA é uma organização público-privada que começou seus trabalhos em 2010 –está portanto no quinto ano de atividades”, diz ele.
A agressividade da meta, que, trocando em miúdos, pretende colocar os EUA em primeiro no ranking mundial de visitação, desbancando, até 2020, gigantes europeus como a França, a Espanha e a Itália, dá um pouco a medida da ambição do Brand USA com relação ao seu turismo receptivo, que é o que gera divisas.
De acordo com Garzilli, o modelo de financiamento da organização é baseado em 50% de capitais públicos e em 50% de dinheiro da indústria do turismo.
A metade “governamental” do orçamento, por sua vez, tem origem numa taxa de US$ 14 que cidadãos de 28 países dispensados de visto de entrada nos EUA são obrigados a pagar a cada dois anos. Na verdade, apenas US$ 10 dessa taxa são potencialmente repassados para o Brand USA.
O Brasil, desnecessário dizer, não integra esse programa que se chama Visa Waiver, já que cidadãos brasileiros ainda estão na lista dos que precisam de visto para entrar nos EUA.
Leia a seguir trechos da entrevista de Tom Garzilli à Folha:
O TURISTA BRASILEIRO
“No ano passado, 2014, pouco mais de 2 milhões de brasileiros viajaram aos EUA, gastando em suas viagens um total US$ 12,5 bilhões.
Dito isso, está claro que o Brasil é um mercado-chave para os EUA, um dos cinco maiores, e nós certamente queremos fazer com que os brasileiros nos visitem ainda mais –e que retornem.
E o Brasil é um mercado consolidado quando o assunto é, por exemplo, mercados como Miami, Orlando e Nova York; mas, como Brand USA, queremos mostrar novos aspectos.
Com relação ao câmbio [a relação entre o dólar e o real parece agora ter se acomodado num patamar de US$ 1 = R$ 3], não achamos que ele possa reverter a tendência de brasileiros visitarem os EUA.
No máximo, uma alta do dólar pode mudar o jeito de viajar e de gastar, de procurar ofertas turísticas que agreguem mais valor às viagens.”
METAS DO BRAND USA
“Nossa meta é aumentar o número de visitantes estrangeiros nos EUA: no ano passado eles foram 75 milhões de pessoas, queremos chegar à marca dos 100 milhões de turistas/ano em 2020.
Para cumprir esse desafio, estamos montando escritórios que atendem profissionais do setor e, também, consumidores.
Temos escritório no Brasil desde o ano passado, trabalhamos em treinamentos e mostramos as especificidades dos destinos turísticos norte-americanos.
Agora mesmo, neste ano e no próximo, um dos assuntos que estamos enfocando são os parques nacionais dos EUA.
Em 2016, o serviço de parques nacionais comemora seu centenário –e achamos que os turistas devem experienciar esse aspecto nos EUA, onde existem mais de 400 desses espaços naturais. Há um parque nacional em cada Estado, mas também temos centenas de outros monumentos nacionais e vias fluviais cercadas pela natureza.
Sim, sabemos que os brasileiros vão muito para a Flórida e para Nova York, mas queremos também que eles descubram as viagens através de experiências diversas, das praias, de novos centros urbanos e através de experiências gastronômicas.”
MODELO PÚBLICO-PRIVADO
“O aspecto único do Brand USA é que realmente somos um modelo público-privado. Nós podemos pedir ao Tesouro dos EUA até US$ 100 milhões/ano para promover os EUA no exterior, mas qualquer que seja o montante liberado pelo governo, ele deve corresponder a um aporte igual da indústria do turismo.
Nosso modelo, portanto, inclui conseguir esses US$ 100 milhões em doações privadas, embora na prática, nosso orçamento seja um pouco menor do que US$ 200 milhões/ano.
E a nossa missão exclusiva é promover turismo internacional, ou seja, fomentar a vinda de viajantes de outros países para os EUA.”
FIM DO VISTO?
“Se os brasileiros devem ser dispensados de visto de entrada para os EUA? Sei que existem conversas nesse sentido, certamente aumentaria o número de visitantes, mas o Brand USA não tem posição sobre isso, trata-se de um assunto que diz respeito ao governo federal dos EUA.”
Notas do autor:
- Nos EUA, ao contrário do que no Brasil, não há Ministério do Turismo. Lá, o Departamento de Comércio traça diretrizes relativas à visitação, tabula e divulga dados numerais e, em última análise, trata da formulação da política governamental estratégica para o setor.
- No lugar de um órgão oficial como a Embratur, os EUA mantêm a estrutura público-privada Brand USA, em que a indústria do turismo é co-responsável pelo financiamento, divulgação e promoção do país como destino de viagens no exterior.
- Enquanto os EUA receberam 75 milhões de viajantes estrangeiros em 2014, o Brasil, ajudado pela realização da Copa do Mundo, atraiu 6,7 milhões de turistas internacionais (em 2013, vieram para cá apenas 5,5 milhões de pessoas).
- Em 2016, o Rio será sede dos Jogos Olímpicos. Alguém aposta que o governo federal –seja através do Ministério do Turismo ou da Embratur, ou de ambos– conseguirá driblar a sua própria crise para, em parceria com a indústria de viagens nacional, conseguir atrair um número recorde de turistas internacionais para o Brasil?