Há 120 anos, o “Tratado de Amizade, Comércio e Navegação” foi firmado em Paris, no dia 5 de novembro de 1895, pelos “ministros-plenipotenciários” Gabriel de Toledo Piza e Almeida e Arasuke Sone, respectivamente embaixadores brasileiro e japonês na capital da França. E, anos mais tarde, esse tratado abriria caminho para a aportagem do navio Kasato Maru, no dia 18 de junho de 1908, trazendo até Santos (SP) os primeiros 781 japoneses: imigrantes que se tornariam brasileiros, escrevendo uma das mais belas páginas da nossa história.
Além de quase poética, a chegada do Kasato Maru é única num aspecto, pois entre nós, um país orgulhosamente formado por imigrantes que aqui chegaram ao longo de cinco séculos e que ainda hoje chegam em grandes contingentes, nenhuma outra onda imigratória está tão bem registrada.
Agora, para celebrar o tratado de amizade, a Embaixada do Japão está programando a realização no Brasil de 425 eventos oficiais, de exibições pirotécnicas, como a que está agendada para o dia 12/9 no autódromo paulistano de Interlagos, até uma exposição itinerante de painéis nipo-brasileiros a acontecer em oito cidades do país.
A programação completa dos eventos “2015 – 120 Anos de Amizade Brasil” está sendo divulgada no site www.br.emb-japan.go.jp/120logomarca.html
OLHARES NIPO-BRASILEIROS
No bojo das comemorações, dois artistas serão homenageados postumamente, a consagrada artista plástica Tomie Ohtake (1913-2015), que chegou ao Brasil aos 23 anos e aqui construiu uma obra que abrange pinturas, gravuras e esculturas, e o fotógrafo Haruo Ohara (1909-1999), que nos legou imagens sensíveis, quase documentais, retratos de rara sensibilidade do dia-a-dia da imigração japonesa em Londrina (PR).
Ohara imigrou para o Brasil em 1927, aos 17 anos de idade, para trabalhar no plantio do café no interior paulista.
No começo de 1930, comprou terras no Paraná, mas sua saga de grande fotógrafo que seria descoberto só no fim da vida, teve início quando comprou sua primeira câmera, uma Rolleiflex, aos 29 anos de idade.
Sua obra, imagens realizadas com maestria e sem pompas, só seria reconhecida e valorizada no final dos anos 1980.
Documentando com uma curiosidade singela o ambiente à sua volta, as lavouras de café, a vida dos imigrantes nipônicos e o seu próprio círculo familiar, esse fotógrafo foi chamado pelo jornalista Marcos Sá Corrêa de “o fotógrafo das horas vagas” na apresentação do livro “Haruo Ohara – Fotografias”, publicado pelo Instituto Moreira Salles/IMS, em 2008.
Nesse ano, a família do fotógrafo nipo-brasileiro doou para o IMS seus álbuns de fotos e cerca de 20 mil negativos.
O SOL NO HORIZONTE
A rigor, em 1934, quando Haruo Ohara se casou com Kô Sanda, faltavam seis meses para que Londrina, cuja colonização esteve à cargo da firma britânica Companhia de Terras do Norte do Paraná, fosse inaugurada.
A mata envolvia os ranchos dos colonos, os cafezais e as plantações frutíferas ainda não tinham ocupado largas porções da paisagem e o fotógrafo do seu casamento foi José Juliani, que fazia bicos quando não estava a serviço da empresa colonizadora.
Foi Juliani que vendeu a Ohara a câmera com que ele documentaria a vida, o céu e as amplas paisagens brasileiras por aquelas paragens, com total controle de uma luz doce e o Sol quase sempre no horizonte.
Com rigor profissional, Ohara produziu cerca de mil negativos em preto e branco e dez mil coloridos que nunca se preocupou em comercializar