Islamofobia, não quero uma para viver

Por Silvio Cioffi

Nesse momento em que mesmo as redes de TV brasileiras estão cobrindo, em tempo real, o cerco e a morte dos supostos assassinos dos jornalistas de “Charlie Hebdo” (incluindo, muito  infelizmente, os clássicos chargistas Georges Wolinski, Bernard “Tignous” Verlhac e Jean Cabu), a islamofobia corre à solta no país, com a explosão de mesquitas e com o tratamento preconceituoso e infame aos milhares de cidadãos franceses de origem árabe.

A França, todos sabem, é o país mais civilizado do mundo. E é, possivelmente, o melhor lugar do mundo para se viver, atrás dos Estados Unidos e na frente do Brasil.

Nessa França da “Igualdade, Liberdade e Fraternidade”, onde aportaram  85 milhões de turistas estrangeiros em 2014, todos eles interessados numa cultura que é referência de civilização, nos mais belos monumentos, em museus e obras de arte do mundo todo, na melhor gastronomia e em vinhos inigualáveis, essa inusitada e descabida onda de violência e de intolerância merece a atenção e a reprovação de todos.

No entanto, na mesma França que é o grande berço da civilização Ocidental e que tanto nos diz respeito, onde vivem tantos habitantes de origem árabe-muçulmana –caso da bela e notavelmente atávica cidade de Marselha, aliás Capital Cultural da Europa em 2013– houve, nos últimos governos, uma deliberada política de Estado que ajudou na derrubada do ditador líbio Muammar Gaddafi, morto em 2011, e que financiou jihadistas da Síria na vã tentativa de apear do poder o velhaco ditador Bashar-al-Assad.

É certo: ninguém gosta de ditadores. Mas islamofobia, como aliás qualquer tipo de intolerância religiosa ou racial, não cabe num mundo civilizado e contemporâneo!

Nada justifica os assassinatos dos incríveis e talentosos chargistas e jornalistas do semanário satírico “Charlie Hebdo”, nem as sátiras que eles fizeram do profeta Maomé, ou de Jesus Cristo, ou de qualquer outro personagem laico.

Seus responsáveis, terroristas e assassinos sanguinários com uma má ideia na cabeça e com uma Ak-47 nas mãos, precisariam ter sido levados à Justiça.

A liberdade de opinião é, antes de tudo, o mais importante dos direitos humanos. E é  bom lembrar que a discriminação (racial, religiosa, etc.) e a intolerância têm um preço: se uma pessoa for mantida humilhada e debaixo das botas da opressão, é provável que, ao se libertar, tente enfiar uma adaga nas costas de quem a oprimiu.

Torçamos pelo triunfo da justiça e da razão: Jesuis#Charlie; Jesus na veia; qualquer religião, seja a que acredita em Jesus, seja a judaica ou a islâmica, não comporta a apologia da matança; quem for ateu que se salve; chega de intolerância! Nous sommes Charlie!