Uma saída honrosa para o SeaWorld

Por Silvio Cioffi

A cientista Naomi A. Rose aponta para uma saída honrosa para os parques SeaWorld, propondo o que seria uma “win-win situation”, ou uma situação em que ninguém perde.

 

A proposta vem a calhar depois que o documentário “Blackfish” (2013), dirigido por Gabriela Cowperthwaite, mostrou os bastidores do SeaWorld e expondo as circunstâncias que envolveram a morte da treinadora Dawn Brancheau pela orca Tilikum, em Orlando (EUA).

 

Depois do incidente, uma onda de manifestações contra os 11 parques do grupo varreu os EUA e, na semana passada, uma cidadã chamada Jan Pettifor colocou um cartaz na rodovia Interstate 75, próxima da entrada para o parque onde a orca arrastou a treinadora pelos cabelos para o fundo do tanque.

Nos dizeres do cartaz de Pettifor, está a denuncia o que seria a escravização pelo SeaWorld de mamíferos marinhos como orcas, belugas e golfinhos: “Free World, Not Slave World, End Whale Captivity” (algo como “mundo livre, não mundo escravo, fim do confinamento de baleias”).

Foto reprodução Cartaz na rodovia I-75, próximo ao SeaWorld de Orlando (EUA)
Foto reprodução
Cartaz na rodovia I-75, próximo ao SeaWorld de Orlando (EUA)

 

O SeaWorld, uma megaempresa de entretenimento que já foi avaliada em US$ 2,5 bilhões, nega os maus tratos e diz que o filme “Blackfish”, que custou apenas US$ 76 mil, é impreciso e enganoso –e que “ao invés de dar um tratamento justo e equilibrado a um assunto complexo, lamentavelmente explora um acidente trágico que continua sendo fonte de profunda tristeza para os familiares e amigos de Dawn Brancheau.”

Em 2013, mesmo com uma queda de 6% no movimento, os parques do SeaWorld, que completaram 50 anos de existência em 2014, receberam 25 milhões de visitantes.

Os números dão uma ideia de como, apesar de estar na berlinda perante uma parte importante dos cidadãos norte-americanos, enfrentando cancelamento de shows de artistas e manifestações ocasionais na porta dos parques, o SeaWorld ainda tem seu público.

Naomi Rose, que é uma cientista especializada em mamíferos marinhos no The Animal Welfare Institute, já está trabalhando na criação de um santuário para golfinhos.

Ela afirma que esse modelo de parque alternativo poderia ser usado para dar uma solução negociada ao fechamento dos parques marinhos como os do SeaWorld.

“O cativeiro mata as orcas”, afirma ela, partindo da premissa de que manter esses animais enormes e reconhecidamente inteligentes em pequenos tanques de concreto é inclusive perigoso para os treinadores –há outros casos de pessoas mortas além do de Dawn Brancheau.

Foto Reprodução      Cartaz do documentário "Blackfish - Fúria Animal" ; veja trailler do filme
Foto Reprodução Cartaz do documentário “Blackfish – Fúria Animal” ; veja trailler do filme

www.youtube.com/watch?v=owaZIWdkV_g

 

MORTES PRECOCES 

Dados mostram que as há três vezes mais chances de morte prematura das orcas aprisionadas do que ocorre na natureza. E os fatores são vários: os animais aprisionados ficam fora de forma, têm as dorsais deformadas e o maior tanque do mundo é menor do que 0,0001% do espaço vital normalmente percorrido por esses mamíferos marinhos diariamente.

Em cativeiro, as orcas também são mantidas em grupos sociais incompatíveis com os encontrados na natureza.

Isso, segundo os cientistas, contribui para o estresse desses mamíferos e deprime seus sistemas imunológicos deixando-os à mercê de infecções que eles não teriam em estado selvagem.

Os mamíferos marinhos também costumam quebrar seus dentes pois mordem compulsivamente as portas de metal entre os tanques em que são confinados nos parques. Esses dentes quebrados são novamente fontes de infecções bacterianas.

Além dos fatos mais óbvios, outros fatores também contribuem para a morte precoce das orcas aprisionadas e esses animais raramente chegam à meia-idade –em torno de 30 anos para machos e de 45 anos para fêmeas. Ou seja, entre as mais de 200 orcas colocadas em cativeiro, nenhum macho jamais chegou a completar 60 anos de idade e não há fêmea que tenha vivido até os 80.

 

DILEMA E SOLUÇÃO  

Para a cientista Naomi Rose a solução passaria pela criação dos tais santuários de reabilitação e pela aposentadoria para essas baleias. Tais lugares seriam criados em braços de mar e em baías contíguas aos seus habitats naturais.

Os animais não seriam mais obrigados a dar piruetas e fazerem truques circenses, nem ficariam expostos ao grande público. Suas estruturas familiares seriam, tanto quanto possível, preservadas.

Especialistas nesses mamíferos marinhos e veterinários seriam contratados para cuidar deles, mas sempre preservando devida distância, pois  o grau de interação entre as orcas e os profissionais seria escolhido pelas orcas.

A premissa fundamental para esses santuários, no entanto, é não incentivar a procriação para que, em algumas décadas, o programa fosse naturalmente extinto.

Um centro de visitação seria concebido para oferecer educação pública sobre esses mamíferos marinhos dotados de enorme inteligência, mas, para Naomi Rose, a interação entre os animais e o público deveria ser a menor possível.

 

NOVA PERCEPÇÃO

Para ativistas como Ric O´Barry, o homem que treinou os golfinhos usados na série televisiva “Flipper”, nos anos 1960, e depois mudou de lado, a existência dos SeaWorld também não se justifica e a tragédia que ocorreu com a treinadora Dawn Brancheau não foi um caso isolado.

O SeaWorld se diz comprometido com a proteção e a reprodução de espécies, afirma que resgata da natureza animais com a saúde debilitada e afirma que seus shows são educativos.

O’Barry, fundador da ONG preservacionista The Dolphin Project, clama pelo esvaziamento imediato de todos os tanques.

No Brasil, parques como o SeaWorld não são permitidos. “A pena para quem molesta cetáceis em águas jurisdicionais brasileiras é de dois a cinco anos de reclusão”, diz a lei 7.643 de 1987.

Em tese, o Ibama pode autorizar no entanto que animais nascidos em cativeiro participem de exibições, mas não existem parques semelhantes aos do SeaWorld no país.

E você, o que acha?