Uma nova modalidade de turismo, a dos voos espaciais particulares, está em ritmo de espera depois de dois acidentes ocorridos durante testes que vêm sendo realizados pelas empresas Virgin Galactic e Orbital Sciences.
Na Virgin Galactic, empresa fundada pelo bilionário empresário inglês Richard Branson, o plano era estrear no ramo do turismo orbital já no ano que vem, mas um acidente com nave experimental SpaceShipTwo, no último dia 31 de outubro, matou o copiloto Michael Alsbury.
Depois do sinistro, seu projeto exigirá mais testes antes da entrada em operação –o piloto Pieter Siebold, que conseguiu se ejetar, ficou gravemente ferido.
Inicialmente foi dito que o acidente com a SpaceShipTwo teria acontecido após uma explosão no ar, fato que foi desmentido.
Lançada do avião cargueiro WhiteKnightTwo quando realizava testes na região da estação espacial de Mojave, na Califórnia, a SpaceShipTwo, segundo se apurou mais tarde, deve ter tido problemas com o mecanismo que o prendia à nave-mãe.
O jornalista de aviação Ernesto Klotzel, um expert no assunto, explica que a a Nasa, ao examinar os escombros do SpaceShipTwo, concluiu que o defeito que derrubou a nave ocorreu no mecanismo que serve para destravar as naves –e que não teria havido a tal explosão.
Com capacidade para dois pilotos e seis passageiros, a SpaceSchipTwo tem foguetes como propulsores e se desprende do avião carregador (ou nave-mãe) à uma altura de até 17 km. A seguir, usa seus próprios motores para subir até a estratosfera, à uma altura de 100km. A título de comparação, jatos comerciais normais voam à uma altitude de cerca de 10 km.
Essa nave experimental que se acidentou já havia feito 55 voos de teste anteriormente. E é importante lembrar que, desde 2008, a Virgin Galactic realizou 172 voos de teste com diferentes aeronaves especialmente desenvolvidas para o programa.
O que há de mais inédito na SpaceShipTwo é que ela tem uma cauda que se articula a 90 graus e, como ela desce quase que como um planador espacial, esse mecanismo funciona como um gigantesco flap ou um freio de resistência ao ar capaz de controlar a sua velocidade.
Como o combustível dessa nave também é experimental, ou “exótico”, inicialmente se creditou o acidente à uma explosão afinal descartada pela Nasa. Como explica o especialista Klotzel, ele tem uma mistura de componentes e até borracha líquida em sua mistura.
MAIS ATRASOS
Além da Virgin Galactic, outras empresas estão disputando a primazia do pioneirismo no turismo orbital –e o empresário norte-americano Jeff Bezos, dono da livraria virtual Amazon e do jornal “The Washington Post”, é um que investe nesse setor.
Noutra concorrente, a Orbital Sciencies, que também faz testes para ter aeronaves capazes de levar passageiros a voos espaciais e faz experimentos médico-científicos, o clima também é de desolação.
Dois dias antes do ocorrido com a nave da Virgin Galactic, o foguete não-tripulado Antares da Orbital que havia sido lançado em 29 de outubro, de instalações da Nasa na ilha Wallops, na Virgínia, explodiu logo após a decolagem.
Em outras empresas que trabalham desenvolvendo naves espaciais para voos comerciais, caso XCOR Aerospace e da Blue Origin, os planos também devem ser adiados.
DESISTÊNCIAS?
Na Virgin Galactic, até onde se sabe, a lista de celebridades que teriam feito reservas para os primeiros voos espaciais particulares inclui nomes como Brad Pitt, Angelina Jolie, Justin Bieber , Stephen Hawkings e Tom Hanks. Dos 700 candidatos, 20 teriam desistidos depois do acidente do último dia 31.
Quando essa modalidade de turismo espacial finalmente decolar, os passageiros que pagaram cerca US$ 250 mil poderão observar o arredondamento da Terra a partir do espaço e experimentar por instantes a ausência de gravidade.
Mas, apesar das promessas de ineditismo e da promessa de aventura desse tipo de viagem, há quem prefira curtir o tempo livre viajando em aviões de carreira ou com os pés mais próximos do chão.
O jornalista de aviação Ernesto Klotzel é um deles: “eu não pagaria nem US$ 25 mil”, disse ele à Folha. E você?