A morte do candidato Eduardo Campos, que então encabeçava a chapa do PSB e cujo cortejo foi seguido por 150.000 pessoas no Recife, comoveu o país. Mesmo os dois outros principais postulantes à Presidência, Dilma Rousseff, do PT, e Aécio Neves, do PSDB, participaram do funeral e lhe renderam homenagens.
Mas, a seguir, outra notícia desconcertante não galgou as manchetes: houve falha da caixa preta, que não gravou a comunicação do piloto, elemento crucial para se averiguar o que de fato teria acontecido com o jatinho Cessna Citation 560 XL, prefixo PR-AFA, que, vindo do Rio, embicou para a morte em Santos (SP), depois de ter iniciado uma manobra para arremeter na Base Aérea do Guarujá.
No triste episódio que colocou Marina Silva na cabeça da chapa do PSB e mudou a correlação de forças na atual disputa eleitoral, outra dúvida ficou no ar: quem, afinal, é o dono do jatinho que a Folha inicialmente afirmou custar US$ 7 milhões e a “Veja” disse valer US$ 9 milhões?
As investigações da imprensa, especialmente as do repórter-especial Mario Cesar Carvalho, desta Folha, acabaram chegando em depósitos suspeitos e em papéis em que o “comprador” da aeronave sinistrada sequer está propriamente identificado.
Adquirido originalmente por meio de um leasing da Cessna Finance Export Corporation, braço financeiro da fabricante do aparelho nos EUA, a aeronave foi “vendida” sem que o fato fosse comunicado à Anac e nem ao Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB).
Marina Silva, que escapou por pouco de embarcar no voo que tirou a vida de Eduardo Campos no dia 13 de agosto último, declarou ao “Jornal Nacional” que não sabia das irregularidades relacionadas à compra do jatinho.
Em princípio, como o Cessna que vitimou Campos era um avião privado –e não um táxi aéreo– ele só poderia estar emprestado. Mas quem, afinal, era o dono dessa aeronave fabricada em 2010?
Ele estava cedido a Campos a título de ajuda de campanha? Haverá uma contabilidade disso com transparência? Que empresa fazia o seguro do Cessna Citation 560 XL e quem faz jus à indenização por conta desse trágico acidente?
Ao que parece, transcorridas três semanas desde que o acidente aconteceu, há mais dúvidas do que certezas envolvendo a compra do jatinho.
Para muitos dos políticos em campanha, ao que parece, o Brasil não é apenas o país do jeitinho, mas é também o país do jatinho, especialmente em campanhas majoritárias.
Candidata do PT à reeleição, a presidente Dilma Rouseff está montada nas asas da máquina do Estado –e certamente larga com vantagens no quesito mobilidade nacional para fazer campanha. No caso dela, salvo engano, quem paga a conta dos deslocamentos somos nós, ou é o PT?
Já o candidato do PSDB, Aécio Neves, conforme furo de reportagem desta Folha, é tão afeito a jatinhos que mandou construir, quase que para seu uso exclusivo, e com dinheiro público, um aeródromo na fazenda de um tio, na cidade de Cláudio (MG).